Veja o que o Arthur me ensinou

 


    Arthur, menino de oito anos, segunda série do ensino fundamental, magrinho, palidez acima do normal, mas dois olhinhos repletos de esperança. "Tio... Tem uma moedinha pra me dar?" É... Este menino estava no estacionamento de um grande supermercado de Carazinho, no entardecer desta sexta-feira (15/7), com um jeito especial de súplica por alguém que entendesse que é carente de tudo que o ser humano precisa. Eu vi, no menino Arthur, fome, abandono, desesperança... Eu tinha, no meu carro, apenas cinquenta e cinco centavos. Achei pouco... Mas coloquei a micharia naquela mãozinha que se estendia vidraça a dentro do meu Fiat 500. Ele sorriu e me disse "muito obrigado". Eu fiquei a imaginar o que ele iria fazer com aquela porcaria que eu tinha lhe dado. Desci do carro, vasculhando a mente em busca de algo que aliviasse a minha tristeza por ver um ser tão submisso aos males deste mundo, mas tive o privilégio de vislumbrar o que podia dar luz e suavidade à minha alma. Dei um abraço no Arthur e o convidei para um passeio pelo supermercado. O menino, surpreso mas com cara de quem nada tinha a perder, me acompanhou. Na padaria, no setor de refrigerante, na ilha de frutas... Enfim: compramos um pouco de tudo. Depois de sairmos do caixa ele disse um muito obrigado, um tchau e desceu a escada que o levaria para fora. Levava duas sacolinhas que pareciam ser mais pesadas do que podia carregar. Eu ainda me senti na obrigação de ir até ele e recomendar: "cuida pra ninguém tirar de ti essas coisas". Ele disse: "eu cuido". Pena que a padaria só tinha pastel de frango. O Arthur me disse que gosta de pastel de carne. Me confessou que ainda não tinha comido um pastel de carne. Eu lhe prometi: "eu vou lhe dar muitos pasteis de carne (bovina)". Obrigado, angelical menino Arthur, por me ajudar a ver, com a mais nítida clareza, o que sofrem brasileiros não assistidos neste momento angustiante da nossa pátria. Obrigado menino Arthur. Você, na mais pura inocência, me ensinou que a felicidade não vem só daquilo que a gente conquista. A felicidade pode ser produzida, de forma plena, através daquilo que a gente dá. Daquele bem que a gente sente. Daquela ajuda que os céus nos obrigam a concretizar. Obrigado menino Arthur. Obrigado!!! (Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais n° 9610/98)

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