Cristo nasce no Brasil

    José e Maria, 25 de dezembro de 1983, vivem momento de enorme expectativa. Maria, grávida, está para dar à luz o prometido filho de Deus. O mais difícil, para os dois, é encontrar, no Rio de Janeiro, um lugar onde o bebê possa nascer com a paz que merece. 
    O casal bate, infrutiferamente, em muitas portas. Hospitais, obstetras, pediatras, postos de saúde... Ninguém atende seus apelos. Mansões, palácios, prédios colossais... Também daí não surge qualquer respaldo. A hora do menino Jesus nascer está chegando e, sequer, José e Maria dispõem de um ambiente adequado para isso.
    Maria já não suporta as dores que precedem o parto. O menino vai nascer a qualquer momento. Isso é inevitável. Improtelável. José e Maria, então, resolvem entrar no primeiro galpão que encontram. Ao abrirem a porta se deparam com duas centenas de mendigos (alcoólatras, tuberculosos, leprosos...). Estes, ao contrário do que podia se esperar, lhes dão guarida. 
    PLATEIA EMOCIONADA
    José e Maria têm mas não precisam apresentar qualquer argumento. Os moradores do barraco não requerem explicação. Sabem que uma criança está para nascer e, com muito orgulho, preparam-se para recebê-la. Até se percebe um clima de emoção no ambiente. A pobreza que circunda se torna pequena diante de tanta disposição à solidariedade. 
    Maria, finalmente, pode ter o seu tão esperado filho. O menino Jesus chora, como toda criança faz no nascimento, mas sem motivar preocupação aos pais e nem à plateia acolhedora. Por incrível que pareça aqueles carentes moradores do galpão sabem agir com a discrição que o momento exige. 
    A chegada do menino Jesus é festejada. Humildemente festejada. Não há poder para pompa. José e Maria, agora, só querem saber o que de melhor podem fazer para cumprir a missão que lhes foi delegada. Está ali o filho de Deus. Um ser, amado como filho, cortejado como representante do céu... Merecedor de zelo especial da parte dos pais. Nem a certeza de que se trata do filho de Deus permite a José e Maria arriscar um mínimo de descuido.
    OS TRÊS REIS MAGOS
     Doze dias já se passaram do nascimento do Messias. Os degradados moradores do galpão enviam, dia 6 de janeiro de 1984, três representantes para um contato com José e Maria. Todos estão ansiosos por informação sobre a criança recém-nascida. Não têm a menor ideia de que ali, naquele espaço tão pobre, tinha nascido o filho de Deus. É esse um momento de enorme emoção. Um dos agentes nomeados presenteia o menino Jesus com a sua camisa. Outro deixa o seu boné que: "vai ficar muito bem no garoto quando estiver crescido". O terceiro tem 10 cruzeiros no bolso e resolve doar para que o casal tenha condições mínimas de sustento ao recém-chegado.
    PENOSA PEREGRINAÇÃO
     Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, mas o filho de Deus tem que se virar. Sofre todo tipo de preconceito. É pobre. Não tem sobrenome. Não tem padrinho político. É um "João Ninguém". Não dá carteiraço. Mesmo ciente de que é agente do céu na terra não se impõe. Pede esmola, carrega malas na estação rodoviária, faz breves espetáculos em semáforos... No mundo em que o colocaram ninguém sobrevive sem uma coisa que se chama "dinheiro". Nem que seja pouco dinheiro é essencial para a subsistência. Sem um mínimo desse instrumento o sujeito morre de fome. Isto sem falar de que, no país onde está o Rio de Janeiro, até os ricos experimentam algum tipo de carência. Algum tipo de frustração. É verdade. A pessoa neste país chamado Brasil já nasce forte para suportar os deprimentes embates. 
    O poder vê, no jovem Jesus Cristo, um possível agente para as suas ações de rotina. Propostas não faltam. O chefão do tráfico de drogas acha que ele pode ser um "mula". O dono da rede de caça-níqueis vê ali um talento para gerência. Os bicheiros também fazem as suas tentativas. Os partidos políticos... Veja só... A promiscuidade política do Brasil igualmente pensa que pode usar o filho de Deus para as suas artimanhas. Todos estão enganados. Aquele ser humano está centrado em uma missão: tornar a terra um lugar de felicidade para todos os seus habitantes.
    IRREDUTÍVEL TRAJETÓRIA
    Jesus Cristo, nascido em 1983, no Rio de Janeiro, a nada se submete. Sua integridade se torna notória. Em todas as partes do mundo se fala de um cidadão, enviado por Deus, para colocar as coisas em dia no planeta. Nascer no Rio de Janeiro? Por quê? Talvez porque de lá partam para o mundo informações de episódios que podem até convencer Deus de que foi um erro a criação da humanidade.
     Finalmente o filho de Deus é levado a sério. Quando o sistema dominante descobre que ele é capaz, até, de curar enfermos com um simples toque de mão, o pânico se consolida. Ninguém quer um único ser com tanto poder. Imagine se ele acabar gerando outros. "Nós seremos implacavelmente descartados". A união de facções poderosas é, neste cenário, uma solução vislumbrada. O filho de Deus precisa ser poderosamente combatido. 
    Meus queridos conterrâneos... Brasileiros de todas as plagas... Vocês estão vendo aí que tivemos a chance de conviver com o Messias. Só que, lamento dizer, todo mundo se declara puro até que alguém coloque algum entrave em seu caminho. Os puros brasileiros - felizmente nem todos - têm muito medo da ação do filho de Deus. "É vital que o eliminemos".  
    CRUEL PUNIÇÃO
    José e Maria haviam escolhido o Brasil, um país conhecidamente religioso, para o nascimento do filho de Deus. A sina histórica, porém, está se repetindo. Os poderosos deste novo tempo não se sentem a vontade com uma tão lúcida e correta liderança misturada com o povo. "Temos que apagar este sujeito". 
    Chefões do tráfico de drogas... Proprietários de indústrias de produtos fraudados (leite, carne, embutidos, remédios...)... Políticos das mais diferentes esferas... Donos de empreiteiras que atuam no mundo todo... Ninguém admite que o filho de Deus possa manter a sua trajetória. Forma-se, assim, uma união de forças maquiavélicas para retirar, do seio da sociedade presente (abril/2017), aquele sujeito abominável.
    É assim que Jesus Cristo, depois de uma segunda "Via Crucis", acaba outra vez pregado em uma cruz. Deve ali morrer de dor, febre, fome, sede... Deve morrer da forma mais penosa possível. É o filho de Deus. Quem manda ser o filho de Deus!!! Você podia ser filho de qualquer um. É filho de Deus? Dane-se!!! 
    CHANCE DE SALVAÇÃO
    Jesus Cristo, mesmo na cruz, em cenário de destaque no Rio de Janeiro, tem uma mínima chance de sair vivo de todo episódio. Ao lado dele, crucificado, está "Renanbraz". É dado ao público o poder de decisão para a liberdade de um dos dois crucificados. Os votantes, entretanto, todos envolvidos em operações como Lava-Jato, Leite Compensado, Carne Fraca... É!!! Essa gente recebe a incumbência de escolher quem, daqueles dois crucificados, deve ser salvo. Imagine quem ganhou esta parada. "Renanbraz" desceu da cruz sob aplausos enquanto Jesus Cristo suplicava por uma gota d'água. 
    Jesus Cristo, filho de Deus, nascido no Rio de Janeiro... Acolhido por um grupo heterogênico de necessitados. Filho de Deus mais uma vez recusado. Mais uma vez perseguido. Mais uma vez sacrificado. Jesus Cristo!!! Eu preciso tanto que respeitem a mim. Se não respeitam você. Qual é a minha esperança? Contudo: não desisto. Jesus Cristo!!! Suplico por uma terceira tentativa. Eu o acolho. (Autor: Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais Nº 9610/98)
    

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