Aposto em quem me dá liberdade...

 


    Eu não tinha mais do que oito anos de idade. Meu pai, por força de um regime que tudo ditava e a ninguém dava ouvidos, servidor do 3º Batalhão Rodoviário, sediado em Vacaria/RS, foi transferido para “um fim de mundo” só porque entendeu adequado pedir um pouco mais de atenção do seu comandante (um capitão proveniente das Agulhas Negras/RJ).
    Meu pai estava sendo submetido a sacrifícios incomuns para garantir, a toda a companhia (civis e militares), o leite que lhe haviam dado o compromisso de fornecer. Cabe colocar aqui que meu pai, sozinho, extraia de mais de quarenta vacas o leite que militares, de todas as patentes, se davam ao luxo de receber na porta de suas casas.
    Meu pai alimentava, saciava a sede, ordenhava e, ainda, era responsável pela entrega, a domicílio, de todo o leite que seu trabalho gerava. Um absurdo... Não tinha sequer água encanada para dar àqueles bichos quase sempre sedentos. Obrigava-se a carregar, nas costas, tonéis de água extraída de um rio que ficava a duzentos metros de distância. Serviço, para um super-homem, executado por desmilinguido ser humano de pouco mais de cinquenta quilos.
    Verdade... Meu pai era frágil... Porém: jamais deixava de cumprir aquilo que lhe era determinado. Mesmo que as ordens fossem as mais injustas possíveis. Ele tinha sido criado para ser eficiente. E esta sua eficiência acabou o conduzindo a uma espécie de escravidão. Sim... Meu pai foi escravo daqueles militares insensíveis vindos de muito longe para dar ordens a setores dos quais não tinham o menor conhecimento. Meu pai pediu compreensão e isto foi recebido como recusa de obrigação. Mandaram o pai de quatro meninos e duas meninas trabalhar, no fim de mundo aqui já citado, sem o menor conhecimento do compromisso que iria assumir.
    Deixava involuntariamente, meu pai, de cuidar da produção de leite, que estava em suas mãos havia mais de vinte anos, para a desagradável experiência de viver o desconhecido total.
    O setor de produção de leite do 3º Batalhão Rodoviário foi desativado, por inoperância de quem substituiu meu pai, em menos de dois anos. Meu pai suportou a amarga experiência que lhes deram e, assim sempre conformado, foi cavoucando meios de chegar a alguém que o compreendesse... Que o ouvisse... Que entendesse que não foi feito para trabalhar com escavação de túneis e nem sabia lidar com explosivos. Meu pai foi assim, docilmente, construindo caminhos para conduzir a vida que planejara para sua família. Afinal: quando saiu de casa recebeu a recomendação de sua mãe que fosse homem suficiente para jamais recusar desafios.
    Pois é amigos... Aqui eu conto a história de um homem que construiu uma estrutura manual que funcionava melhor do que a tecnológica hoje existente. Essa estrutura era movida pela sua força de caráter. Pela educação recebida ao longo de uma vida menor do que duas décadas. Não tinha mais do que vinte anos quando assumiu a produção de leite do 3º Batalhão Rodoviário e, quando já era merecedor de confiança e honrarias, foi repudiado e humilhado por um comandante prepotente e despreparado. Um sujeito que só aprendeu a dar ordens. É assim que acontece nos regimes absolutistas. O poder manda e a maioria obedece.
    Queridos leitores do Correio Regional... Vocês sabem que falar de certas coisas às vezes desperta reações nada producentes. Mesmo assim eu entendo correto fazer essas revelações - porque estamos em véspera de eleição e devemos pensar que a nossa preferência precisa se inclinar para aqueles que aceitam o diálogo, as ideias, os anseios, as revelações de angústia da grande massa popular. Há um clima evidente de compra de voto no ar. Não se submeta. Jamais lhe darão algo acima do que você merece. E se lhe dão é porque isso é muito pouco. Digamos: é certo que irão apostar na sua ingenuidade. Mostre que você raciocina bem melhor do que eles.
    Teremos, nas eleições de 2 de outubro, talvez uns vinte candidatos a presidência da república. Todos farão o moral, o imoral, o possível e até o impossível para obterem o seu voto. Você sabe que este é um momento vital para o nosso país. Então pense, troque ideias, debata, questione... Meu amigo querido... Eu suplico: vote conforme dita a sua cabeça. A cabeça do outro??? Pois é... É só a cabeça do outro.
    Um beijo a todos que me prestigiam com esta leitura. Votos de que o fim de semana e a vida toda lhes cheguem da forma mais perfeita que se possa almejar.(Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais n° 9610/98)

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