Não queimo a minha casa

 


Dos bons tempos de menino
Tenho insistentes lembranças
Claro... As meninas de tranças
Perpetuaram-me paixões
Lembrança de emoções
Que os anos jamais apagam
Momentos que ainda afagam
No aperfeiçoar intenções

O tema, porém, que enfoco
Nada tem de romantismo
Aqui me refiro a um abismo
Um desvio comportamental
Por cedência governamental
Nossa floresta se inflama
E mesmo se o povo reclama
O que triunfa é esse mal

Guabiju, guabiroba, pitanga
Frutos que a mata me deu
Foi o céu que ofereceu
A quem respeita a terra
Repudia sempre a guerra
Porque só interessa a vida
Mesmo que seja sofrida
Com jeito se desemperra

Amazônia... Pantanal
Crime o que o fogo garante
Nem convincente é o bastante
Para selar argumentos
Porque os nossos tormentos
O medo das populações
Precisam aquecer corações
Dos que não têm sentimentos

Em um tempo se indagou
Sobre possíveis apoios
Mata, rios, lagos, arroios
É preciso preservar?
Para o mundo suportar
Então se fez como um clero
O canto do quero-quero
Que nunca vai se calar

Sempre sei que hora é
Quando fala o quero-quero
É o horário que espero
Para o dever assumir
É o preço do existir
É o jeito que a gente anda
Também ouço o sabiá
Rei da Roberta Miranda
 
A floresta em pleno fogo
Quem arrisca aprovar
Fauna inteira a reclamar
Pensantes em aflição
Fogo queima o coração
Dos que primam pela vida
E rejeitam a ferida
Que não tem medicação

Floresta é habitação
Conforto e todo carinho
Para aquele passarinho
Que não lhe causa calvário
É só canto de canário
Em dias de sol brilhante
Seu talento é gigante
Alegra qualquer cenário

Talvez não sejam de hoje
Essas queimadas que vemos
Esse amargor que sofremos
Acho que já existiu
Porque um dia alguém riu
Da tristeza do inocente
Pensando que só é gente
Quem riqueza reuniu

Nada disso é verdade
Eu sou aqui testemunha
Defendo com dedo e unha
A riqueza ambiental
Que não acarreta mal
Para quem quer que seja
No lugar em que esteja
Seja humano e racional

O fogo em nossas florestas
Faz muito que me inquieta
Como agulha que espeta
Pra reação combatente
Busco na minha mente
Algo neutralizador
Melhor é oferecer flor
Do que servir aguardente

Vamos eliminar sonhos
E agarrar experiência
O encarar da vivência
É superior sobre tudo 
Pode servir de escudo
A quem fica em desabrigo
Tem um pássaro amigo
Não nasceu pra ficar mudo

Ouço ao amanhecer
O canto alegre que emana
É um ser que não engana
É uma boa companhia
João de Barro é alegria
Sabe aliviar aflição
Arquitetou solução
Até pra ter moradia

João de Barro faz sua casa
Do jeito que é preciso
Observo com sorriso
Esse ser abnegado
Floresta já é passado
Busca abrigo na cidade
Escapa dessa maldade
Do fogo descontrolado

(Autor: Francisco de Campos - Todos os direitos
reservados/Lei dos Direitos Autorais n° 9610/98)

Comentários

Postagens mais visitadas