O meu professor Waldir Heck

    Preciso confessar que, quando resolvi investir na série "Os homens da minha vida", só tinha na mente um primeiro. Mas sabia que, graças à generosidade do universo, seria justo também com outros. Feliz agora constato que posso dedicar palavras compensadoras a um outro homem que foi e continua sendo marcante em minha vida.
    Waldir Antonio Heck... Eu nem sei se ele me daria licença para usar seu nome nesta abordagem. Sabe... Aquelas  pessoas grandiosas não podem deixar que andem por aí usando seus nomes. É comum alguém buscar promoção pessoal usando nomes de celebridades. Este, porém, não é o caso presente. 
    Dias atrás confessei amor, por meu professor Medina (português e educação física), em um enfoque totalmente desprendido. O propósito - da série iniciada com ele - é dar um pouco de alegria a quem acendeu luzes para a caminhada que fiz da adolescência até os dias de hoje. Afinal: reconhecimento é algo gratificante para pessoas de todos os tamanhos. 
    EDUCAÇÃO ARTÍSTICA  
    Meu professor de educação artística - Waldir Antonio Heck - é uma das personalidades mais elevadas que de Carazinho foram lançadas para o mundo. Você não tem ideia do que eu poderia escrever sobre esta celebridade. Ele tem... Todo ser ciente de suas virtudes sabe que palavras podem lhe ser dirigidas. No entanto: eu me limito ao sentimento que frutificou da nossa relação aluno/professor/jornalismo. 
     Meu professor Waldir Antonio Heck é autor de ensinamentos que norteiam as minhas atitudes até os dias de hoje. Ele era responsável pela área de educação artística. Acontece que, ciente da necessidade de real conhecimento da juventude brasileira, ele (pelo que me lembro) jamais deu para a minha turma uma aula de educação artística... Isto mesmo sendo um especialista em artes visuais.
    Waldir Antonio Heck, meu professor de educação artística, era sempre o mais esperado da turma do "científico" do Sorg. Não porque alguém desejasse conhecimento sobre arte (no que ele é e sempre será mestre)... A turma queria mesmo é degustar as suas colocações filosóficas. O professor Waldir Antonio Heck era, para nós, um filósofo. Sentava sobre a escrivaninha (em frente ao quadro negro) com um pé balançando e outro no chão. 
    O FILÓSOFO WALDIR
    As aulas de educação artística tinham quarenta e cinco minutos. Se fossem de educação moral e cívica pareciam ter cinco horas. Só que a educação artística de Waldir Antonio Heck fazia a gente desejar aulas intermináveis. Sentado sobre a escrivaninha, com um pé balançando e outro no chão, ele ensinava a mim e aos outros integrantes da turma como obter sucesso e ser feliz.
   Nas pesquisas de memória tenho Waldir Antonio Heck como um ser que o universo lançou com o seguinte intuito: "Vá... Eu o equipo com os ingredientes necessários para que você dê respaldo a todo aquele que lhe convencer de que tem propósitos de vida efetivamente sérios." O meu professor cumpriu fielmente a tarefa que lhe foi confiada. Quem teve aulas de Waldir Antonio Heck é diferente. Como posso dizer... É especial... Tem uma visão de mundo mais positiva. 
    NA SALA DO CHEFE
    Se eu tivesse a pretensão de dizer tudo sobre Waldir Antonio Heck escreveria um livro. Uma crônica, neste espaço, não é grande o suficiente para um ser de tão elevado valor. Preciso contar uma história da minha relação com Waldir Antonio Heck fora da sala de aula.
   Waldir Antonio Heck era o diretor financeiro do Jornal da Produção (1972/1977). Eu era o estafeta do jornal. Poxa!!! Precisava ser comportado à noite (nas aulas de educação artística do Sorg) e, também, durante o dia (nas tarefas que me cabiam no Jornal da Produção). Eu achava que precisava de um comportamento impecável. Mas quem era eu, aos dezesseis anos de idade, para saber o que é impecável no mundo das profissões.
    Certo dia, com uma cara nada amável, o meu chefe Waldir Antonio Heck exigiu alguns minutos de diálogo sobre a minha função no jornal. A informação de que essa reunião era obrigatória, transmitida pela colega Iraci Gomes de Oliveira, me foi extremamente inquietante. Nada fiz antes de saber o que o chefe desejava tratar comigo. Sou daqueles que gostam da nota dez e, se algo me tira do foco, sinto certa dificuldade para atingir esse limite.
    A ASSINATURA DO JUIZ 
    Dia e hora da reunião marcada... Eu estava na porta da sala do chefe meia hora antes. Gosto - sempre gostei - de agir às claras. Não simpatizo com enigmas. A verdade, por mais cruel que seja, é o caminho que entendo ideal para se chegar à sempre almejada perfeição.
    Waldir Antonio Heck me recebeu em sua sala antes do início do expediente da tarde. Eu tinha vivido uma expectativa angustiante desde que recebera a informação de que havia a necessidade daquela conversa. Não me passava pela cabeça algo favorável. Eu até pensava que estava sendo convocado para receber a informação de que minha carreira jornalística tinha findado.
    Surpresa... Waldir Antonio Heck me recebeu com uma gentileza surpreendente. Hoje sei que ele é costumeiramente gentil (e surpreendente). A pergunta dele para mim: "Você tem a cobrança da assinatura de um juiz já faz um ano... Por que ainda não recebeu?" Respondi, dentro da pureza da minha adolescência, que "por mais de cem vezes havia procurado o juiz para cobrança da assinatura. Mas, em meio a centenas de outras, era a única que eu não conseguia receber".
    DISTINÇÃO
     Na reunião convocada por Waldir Antonio Heck fiquei sabendo que eu seria "um jovem muito insolente por insistir na cobrança da assinatura de jornal de um juiz de direito". Eu expliquei: "Sim... Fui mais de cem vezes cobrar a assinatura do juiz. É a única cobrança que, nestes três anos de jornal, não consegui fazer. Sempre há alguém que inventa uma desculpa para eu passar outra hora". 
    Na verdade Waldir Antonio Heck tinha ciência de que o primeiro juiz de direito da comarca poderia ter o privilégio de uma assinatura gratuita do Jornal da Produção. Entretanto: eu, com o formulário de cobrança na minha pasta, sentia-me incompetente pelo insucesso de todas as tentativas de cobrança. A ordem era cobrar e eu cumpria. Um advogado, na sala do juiz, chegou a me dizer: "O magistrado merece ter uma assinatura cortesia do jornal". 
    "O magistrado merece ter uma assinatura cortesia do jornal." Veja só... Eu já havia cobrado mais de cinco mil assinaturas, de assalariados e pouco mais, mas agora me via diante de alguém que defendia a doutrina de que "o juiz tinha que ter a assinatura gratuita". Não concordei com a cortesia e deixei, na sala do juiz, as minhas argumentações. É claro... Argumentações de um adolescente que pouco entende dos meandros da vida. 
    EU E O WALDIR
    Verdade é que nessa questão da assinatura não paga pelo juiz de direito até hoje não sei a opinião do meu professor/chefe Waldir Antonio Heck. É certo, contudo, que a mesma fala apresentada no momento da cobrança, coloquei ao meu chefe Waldir Antonio Heck. Lembro-me de que ele, inicialmente muito sério, despediu-se de mim com um sorriso... "Vai em frente garoto. Vamos nos defrontar com muitas situações semelhantes. Cabe a você descobrir a melhor decisão em cada momento. Você está certo... Todos os cidadãos têm deveres a cumprir. Inclusive os juízes de direito mesmo que diante de um ingênuo adolescente".
    Este é o meu professor Waldir Antonio Heck. Olá professor... Preciso lhe dizer o quanto os seus pontos de vista filosóficos contribuíram para a construção da minha personalidade. (Autor: Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais Nº 9610/98)

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