Um fruto de Maria Juca


    
Maria José Pedro... Pois é! Este é o nome da minha bisavó (avó da minha mãe) – já falecida (evidentemente). Você sabe como Maria José Pedro se tornou conhecida? Claro! Eu concluo que não sabe. Então vou contar.
    Minha bisavó tinha um nome na certidão de nascimento e outro no mundo em que vivia. Era uma artesã maravilhosa. Habilidosa. Maria Juca (está aqui a forma como todos a chamavam) fazia um cobertor, de pura lã, em um dia. Só ela mesmo para entender aquela geringonça que montava para tecer estes cobertores. Confeccionava, na mesma máquina (feita só com varas colhidas no mato), também pelegos, acolchoados, bacheiros (peça usada, em montaria, embaixo do pelego).
    É! Maria Juca é um personagem histórico. Um personagem difícil de ser esquecido. Dizem que viveu mais de cento e dez anos. Eu a conheci quando ainda mostrava pleno vigor. Mulher forte. Corajosa. Valente. Sim! Mulher de braço. Mas mulher em plenitude. Podia combater com espada sem perder a sua notória feminilidade. Era uma mulher que tocava corações. Que mulher!!!
    Cara! Você sabe que estas lembranças me renderam lágrimas mais do que esperava. Maria Juca tinha uma outra habilidade. Quando tirava um tempo para descansar, do estafante trabalho de artesã, me abraçava e no pé do ouvido contava histórias. Maria Juca! É indescritível a saudade que tenho das suas histórias.
    Maria Juca falava, para o menino de cinco ou seis anos, sobre reis, rainhas, príncipes, princesas, gigantes, anões, fadas, castelos, mares, navios, seres angelicais, seres do mal (bota do mal nisso), estrelas, nuvens, céu, inferno, terra, vida, morte, alegria, tristeza...
    É! Maria Juca me cativava com os seus contos. Eu seria capaz de ficar, sei lá quantas noites, sem dormir se ela estivesse disposta a me contar histórias. Impositivo como sou imagine quantas vezes exigi que me repetisse histórias já contadas. Perdi a conta desta espécie de abuso. Minha bisavó tinha uma paciência do tamanho da sua valentia.
    Agora pensa aqui comigo... De onde saiu a minha tendência para o jornalismo e, também, os meus ousados ensaios/passos na literatura??? Eu acredito que Maria Juca me dedicou pedaços preciosos do seu tempo para que, um dia, eu vislumbrasse idêntico prazer de contar histórias. Que saudade de você minha bisavó!!!
    Então: a minha carreira de jornalista começou lá pelos cinco ou seis anos de idade. Movido, é claro, pelo talento de Maria Juca. Passei a reeditar as histórias dela para pessoas próximas. Poxa!!! Vou lhe contar: assumi um compromisso danado. Se, nas férias escolares, fosse visitar parentes, me faziam de cara uma exigência: “Hoje você vai nos contar histórias.”
    Tios, tias, primos... Enfim: era um público enorme (naquele tempo algumas famílias tinham até vinte e quatro filhos). Nas visitas que eu fazia a toda essa gente, em tempo de férias dos meus pais, o compromisso fatal era contar histórias. Sim!!! Eu reeditava as histórias de Maria Juca e conquistava um círculo enorme de fãs.
    Fiquei sabendo, em certo momento, que eu era um ser esperado até um ano inteiro. O público afeiçoado às minhas histórias (na verdade histórias da minha bisavó Maria Juca) me recebia como se eu fosse uma biblioteca. Me via como se eu fosse uma montanha de livros. Veja que coisa interessante! Que bom se hoje toda essa gente ainda pudesse ser reunida para ouvir as minhas histórias. As minhas e da heroica bisavó Maria Juca. (Autor: Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais n° 9610/98)

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