Verena para presidente

    Quando eu era criança, lá no interior de Vacaria, sentia prazer enorme ao observar um teco-teco (avião pequeno) que cortava as nuvens pelo menos uma vez por semana. A minha mãe dizia: "É o presidente da república olhando obras executadas com recursos do governo federal."
    Eu não dizia, para a minha mãe, mas pensava: "Eu vou ser presidente da república." E até conseguia me ver, no futuro, andando naquele mesmo avião com o propósito de inspecionar obras que iria autorizar para o Rio Grande do Sul. Não cheguei à presidência da república. Com o tempo conclui que aquilo não passara de um inocente sonho de criança.
    A ditadura militar contribuiu para esta minha frustração. Quando cheguei à idade de participar da política me vi frente a uma série de impedimentos. Tirei, então, a política da cabeça e investi numa carreira que me permitiria trabalhar pelas transformações que entendesse necessárias. É... O jornalismo me fez um homem realizado. O jornalismo ainda me faz um homem realizado. Através desse ofício consigo modestas realizações. Todas, porém, me são possibilitadas sem a exigência da violência de princípios. Você sabe que, na política, as coisas não são assim. 
   QUERO MESMO
     Verena Zanotelli para presidente! Está surpreso com a minha sugestão? Então você precisa conhecer a dona Verena Zanotelli. Aliás: você precisa conhecer a multidão de pessoas que, como Verena Zanotelli, mantém este nosso Brasil em pé. 
    Vou lhe contar uma coisa... A vida de Verena Zanotelli foi difícil. Esta briosa figura humana pisou em cacos de vidro por quase toda a existência. Contam-me que ainda se abre para os sacrifícios que se apresentam. Sem dar importância às próprias fragilidades mostra-se sempre pronta a ajudar quem se encontra em situação de sofrimento. É capaz de repartir uma nota de dois reais se isso representar ajuda para alguém. 
    Uma pessoa bem próxima a Verena Zanotelli fala de episódios que me deixam deslumbrado. Aline Brandt - hoje mestre em história, jornalista, escritora... - precisou, em um momento da sua vida, do abrigo da tia Vera (como prefere chamar a generosa Verena Zanotelli).
    Aline Brandt estava em período de mestrado e tinha que fazer algumas pesquisas em Porto Alegre. Onde iria se hospedar? É claro! Na casa da tia Verena. A dona Verena era, talvez, a parente de menos posses. Mas era quem, sem dúvida alguma, não lhe negaria abrigo. Tem uma história desse curto período de convivência que me emociona... 
    A jovem estudante Aline Brandt estava saindo para as suas pesquisas. Dona Verena, preocupada, indagou: "Filha! Você vai comer o quê? Pega aqui este dinheirinho (quinze reais) e compra algo que tenha substância. Você não pode ficar fraquinha." Dona Verena Zanotelli, certamente, naquele dia deixou de comprar alguma coisa para a sua casa a fim de favorecer a sobrinha que, na sua opinião, era mais frágil. 
    Aline Brandt saiu pelas ruas de Porto Alegre com uma fortuna (quinze reais) no bolso. Aliás: na bolsa onde levava canetas, lápis, cadernos e livros. Dona Verena Zanotelli ficou feliz, em casa, com a convicção de que a sobrinha fome não iria passar. Santa inocência!
    INVESTIMENTO
    No cair da noite Aline Brandt, com pesquisas prontas, dever cumprido (como é o seu hábito), retornou à casa da amorosa tia Vera. Estava com aparência cansada. A tia preocupou-se: "Você não comeu direito? Você parece estar fraquinha. Fala para a tia... O que aconteceu?"
    A recatada estudante Aline Brandt, com um acentuado grau de problema de consciência, obrigou-se a revelar à tia: "Me perdoe tia Vera. Não sobrou dinheiro para o sanduíche. Acontece que eu passei por um Sebo (venda de obras literárias a preço acessível) e achei uma oferta bem interessante. Por quinze reais eu comprei estes seis livros."
    Dona Verena Zanotelli ficou chocada frente à constatação de que a jovem sobrinha não havia se alimentado durante todo o dia. Não! Não houve qualquer censura. A generosa tia entendeu: "Estou diante de alguém que vê a leitura como o mais importante investimento."
    Filósofa Verena Zanotelli! Sim! Filósofa! Aline Brandt tem hoje uma das mais abastecidas bibliotecas particulares do mundo. E são poucas as semanas do ano que ela não acrescenta livros a esse rico acervo. Valeu o pontapé da tia Vera. Os seis livros adquiridos com os quinze reais que eram para o sanduíche são um troféu que Aline Brandt exibe com o mais elevado orgulho. E de peito aberto ela diz: "Foi a tia Vera que comprou." 
    Verena Zanotelli para presidente! Sim... Eu quero Verena Zanotelli para presidente. Educação, bondade, amor, generosidade, sabedoria, imparcialidade, renúncia, dedicação... É! Paro por aqui com os adjetivos. Se eu continuasse a classificar Verena Zanotelli eu precisaria de milhares de páginas. Prefiro, entretanto, dizer a quem me contempla com credibilidade que: "Verena Zanotelli pode ser a nossa presidente da república a partir de 2019."
    Eu sei que você não conhece Verena Zanotelli. Eu sei que Verena Zanotelli não quer ser presidente da república. É uma pena. O Brasil precisa ser governado por um coração assim tão grandioso." (Autor: Francisco de Campos/Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais Nº 9610/98)

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