Ainda não sei se sou louco

    Lá pelos nove anos de idade caí em uma sequência sem fim de indagações... Como eu posso ter vida sem estar ligado a qualquer fonte de energia (tomada de luz, bateria, pilha...)? Desde quando existe o universo? Me dizem que o universo é infinito - onde começa e onde termina esse infinito? E a humanidade, de atitudes tão diversas e tão complexas, por que existe? De onde viemos? Para onde vamos? Será que Deus estava achando tudo muito monótono e resolveu criar esta gente para ter ocupação? Para ter o que assistir? Para ter alegria/preocupação? 
    É... Estes pensamentos ocuparam a minha mente por uns três anos (no mínimo). Eu até achava que era louco. E, se me abria com alguém da família ou mesmo em conversa com amigos, este raciocínio era ratificado. Eles achavam que eu estava mesmo louco. Meus pais chegaram a dizer, numa determinada noite, que eu precisava desistir de torná-los também loucos. "Ninguém faz perguntas deste gênero. Você faz. Só você faz. Você está louco."
    AUTOCONFIANÇA
    É claro que todas essas observações negativas não me derrotavam. Eu tinha pontos de apoio. As minhas ideias, os meus pensamentos aparentemente esquisitos, tinham amparo em fatores positivos do dia a dia. Por exemplo: eu era um dos dois estudantes que passavam, por média oito, sem exame no colégio estadual de Vacaria. Eu decorava músicas em uma só aula. Eu era, preciso informar, o único guri a vender quarenta picolés em uma tarde de inverno na Encosta Superior do Nordeste. É... Isto me dava confiança. 
    PERSISTÊNCIA
    O tempo passou e eu, então com treze anos, me transferi com a família para Carazinho. Aqui mantive a trajetória exitosa de estudante - no Sorg - com aprovação média oito sem exame. Eu e o Cléber Boeira. Tenho saudade do Cléber. Nem imagino por onde anda. Também me mantive top na venda de picolés. Fui campeão imbatível na lancheria do Turconi (avó do maestro Fernando Turconi Cordella). Isto, somado ao fato de que sustento um jornal impresso há quarenta anos, me dá a convicção de que não sou louco. Ou, na pior das hipóteses, sou um louco do bem.
    Meu amigo... Vou lhe confessar uma coisa... Passaram-se muitos anos... Mas os meus questionamentos persistem. São pensamentos teimosos. São respostas que teimam em não aparecer. É aprendizado/sabedoria que quero e ainda não consegui. Me ajuda. Eu preciso saber. Eu entendo o mundo de um jeito bem particular. Será que isso é ser louco? Quando estou feliz eu quero felicidade em toda parte. Quando estou triste escondo para não retirar o sorriso dos que me estão próximos. Quando vivo abundância eu gosto de repartir. Quando vivo em carência, por minha vaidade, fica tudo em segredo.
    Meu amigo... Os questionamentos persistem... Dos antigos eu desisti mesmo sem ter as respostas. Há, porém, os novos. Os novos questionamentos. Sempre há um novo questionamento. Por exemplo: eu vejo o andar de mãos dadas um símbolo de amor concreto entre duas pessoas. O repartir todo e qualquer tipo de força uma prova desse amor concreto. Uma prova que ultrapassa o cenário das opiniões e pode se limitar à intimidade. O amor verdadeiro não precisa de manchete. É vivido, na alegria ou na tristeza, em cenário de intimidade. 
    Daí eu retorno ao raciocínio da infância e o projeto para os dias atuais. Este amor infinito que tamanho tem? Quando começou eu sei e, quando termina, nem quero saber. Prefiro pensar que nunca termina. Assim como o universo que não tem começo e nem fim. Eu, caro ser humano que me prestigia com a leitura deste texto, lhe dou uma opinião muito particular. Tudo o que é bom a gente tem que manter nas proximidades. Não há férias ou viagens turísticas atrativas suficientemente para afastar, mesmo que por curto tempo, pessoas que realmente se amam. 
    Você há de convir, amigo, que meus pais estavam certos. Eu ainda devo estar louco. Com a minha mulher eu circulo de mão dadas. Não ouso um pecado sequer em relação a esse ser tão amado. Não é submissão. É atitude ditada por princípios orgânicos/espirituais. Sou leal a esse amor conjugal e aos demais seres que habitam o indecifrável universo. (Autor: Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais Nº 9610/98)

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