O garoto do Bairro Brandina

    O prédio onde moro tem uma só caixa de correspondência. Ali é depositado tudo que se destina aos moradores dos cinco apartamentos. Coube a mim, porém, o privilégio de pegar a cartinha que um menino havia escrito para o Papai Noel.
    Garoto, de onze anos, morador do Bairro Brandina. Não sei por que... Mas, ao ler a cartinha encontrada na caixa de correspondência, fui tomado por um profundo sentimento de ternura. Ele só pedia um carrinho movido por controle remoto. E caprichou na letra. Tive certeza de que se tratava de uma criança de boa índole. Um ser inocente em busca da concretização de um humilde sonho. 
    Vivenciei, assim, pela primeira vez este tipo de experiência. Aquela inocente cartinha me colocou numa enorme obrigação. Eu teria que ir ao encontro daquele menino. E fui... 
    A moça da loja que me vendeu o carrinho de controle remoto caprichou no pacote. Esse já foi um bom passo. Pensei, então, em acrescentar alguns itens para, depois, ir ao encontro do menino. Pus ali coisas que criança gosta. Não muito. Mas o necessário para tornar feliz o natal do menino cheio de fé que colocou o pedido na caixa de correspondência do prédio onde moro.
    Bem como pensei
    Foi difícil localizar a casa onde mora o menino por mim presenteado. Precisei ir ao Bairro Brandina duas vezes. Achei o garoto que procurava graças à ajuda de uma prima dele que mora nas proximidades. A numeração de domicílios, no Bairro Brandina como em diversos outros, é por demais confusa. Parece que as pessoas colocam em suas casas o número de preferência. Algo que, sem dúvida, precisa ser consertado na acolhedora cidade de Carazinho. 
    Pois é... Bem como eu havia pensado. Coloquei meus presentes nas mãos de um menino pobre mas repleto de boas expectativas. Um menino de pele tostada e extremamente bonito. Nos olhos dele dá para se perceber esperança e honestidade. Um ser ingênuo mesmo já nos seus onze anos de idade.  
    Você já foi tomado por um repentino sentimento de amor? Amor por um semelhante? É... Devo lhe confessar que tive um impulso irresistível frente ao garoto que enviara pedido ao Papai Noel. Eu precisava abraça-lo... Acariciá-lo. Parecia um filho (grande) recém-nascido. Senti-me no dever de trocar com ele entendimentos filosóficos. Isto foi bom. 
    Esse meu menino, tenho certeza, é e continuará sendo um brasileiro de primeira linha. A sua mãe me contou algumas histórias sobre ele. Todas bastante alentadoras. Tudo o que ele faz nos desperta admiração. É um empreendedor nascido e residente no Bairro Brandina (em Carazinho). Poxa! Que presente de natal eu poderia almejar depois de tudo isso?
    Primeiro ou único?
     Antes de me despedir desse cativante ser humano perguntei: quantas cartinhas você distribuiu na cidade? Ele respondeu: muitas. Fiz uma outra pergunta: quantas pessoas, então, já lhe trouxeram presente? Ele disse: você é o primeiro. Já era quase natal... Daí eu pensei... Houve quem desse pouca importância ao pedido do menino ou o impedimento verdadeiro seria aquela confusão numérica das residências do Bairro Brandina?
    O importante é que consegui encontrar o menino de fé. Ganhei um amigo. Ganhei mais uma preciosa esperança. (Autor: Francisco de Campos - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais Nº 9610/98)
    

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